Muitas Irmãs, que eu saiba, desejam receber notícias do Haiti, é por isso que estou enviando alguns flasches sobre a visita.
Estive durante três semanas em Caseau, distrito da periferia de Porto Príncipe, incluindo a Semana Santa, em Kasal, zona rural, próximo das montanhas, cujo pároco é um missionário Claretiano, argentino, com quem as irmãs mantém boas relações, e encontram um espaço de proximidade e de confiança que não é algo que se possa perder.
O que dizer-lhes? Nossas Irmãs Antonia, Rosa e Isa estão muito animadas, com boa saúde, bem integradas na comunidade e na missão de inserção no bairro. Há sinais de esperança na comunidade vendo-as caminhar ao encontro das pessoas mais pobres, fortalece a união que beneficia a aceitação mútua criando condições para ter uma vida saudável. Elas sentem que, se fossem quatro irmãs seria melhor a convivência comunitária, também na vida social, cada vez que precisam sair de casa, sempre seguem duas a duas, se bem que, até hoje, não tiveram nenhuma ameaça de insegurança, no entanto, é recomendável evitar andar sozinha.
A este respeito, é impressionante ver as casas com altos muros de proteção, e à certa distância muitas
tendas umas ao lado das outras. O Haiti não é um país de grandes contrastes, a pobreza é generalizada, e são poucos aqueles que possuem mais recursos sem ostentação como podemos ver nos outros
países.
Nossas irmãs vivem com grande simplicidade e austeridade, o que é, sem dúvida, testemunho, mas também é necessário que tenham o suficiente para cuidar bem da saúde e do descanso, porque o clima é
forte e o trabalho é pesado. Cuidar da própria vida é uma condição de ser saudável em ambiente exigente.
Haiti tem duas estações climáticas, as duas são quentes, somente diferentes, uma com seca, a outra com pancadas de chuvas, agora é novembro, estamos passando a segunda. É Impressionante ver como
tudo é verde e embora pareça que a terra esteja maltratada pelo abatimento constante de árvores, permanece fértil. A agricultura e a pesca são os dois aspectos mais importantes da economia
haitiana. O mercado de rua é o principal movimento econômico e social, onde os protagonistas são na sua maioria mulheres.
A Comunidade das Irmãs define-se na fase do VER, mas é uma visão muito ativa, isto é, ligada à ação, os acontecimentos diários são um convite para participar na busca de alternativas de pequenas
respostas concretas para uma real necessidade.
A oficina de artesanato conta com 45 mulheres divididas em três grupos de 15 cada dia, é um local de encontro, conhecimento, e de observação para iniciar um trabalho que exige maiores
responsabilidades e compromisso. Por enquanto, existe a realização de um projeto de cozinhas comunitárias, preparação de alimentos para saciar a fome que é a necessidade mais urgente. Para
iniciar este projeto e mantê-lo por algum tempo, contamos com todos os recursos enviados pelas Escolas, grupos de leigos e leigas, alguns donativos pessoais provenientes das diferentes províncias
da Congregação.
Enquanto isso, continua a construção do Centro de Saúde Alternativa com os Irmãos de Sales, com quem as irmãs vão crescendo e fortalecendo os laços de acordos provenientes do projeto de
atendimento às necessidades da população.
É bom sentir que as irmãs expressam sua sensibilidade e solidariedade com os pobres. Já conquistaram algumas amizades que refletem a imagem específica da composição e da inclusão. Tal é o caso de
uma jovem chamada BEBE que trabalha na reciclagem de resíduos, tem um filho de 2 anos e é muda, consequência de um trauma. No início se encontrava com as Irmãs na rua comunicando-se através de
sinais, mas agora começou a voltar para casa e às vezes visita-nos com seu filho. Após alguns dias pude testemunhar sua mudança na aparência, sua espontaneidade no dia de sua chegada para o
almoço, estava bem arrumada e feliz, mostrando delicadeza nos seus gestos. A outra é Rose Marie, 30 anos, grávida no 6º mês de gestação, está muito doente, também ela é benvinda no café da manhã
e está sendo acompanhada no exame médico. Quando a conhecemos, pensava que as irmãs a cuidavam para pedir-lhe seu bebê, mas como Isa entende bem o dialeto Kreol, disse-lhe que queremos ajudá-la a
cuidar de sua saúde para que seu filho tenha um nascimento nas melhores condições possíveis. Rose Marie chorou de emoção, e nós também. A dádiva é abundante, gratuidade, não.
Faz bem dizer-lhes que as irmãs são habilidosas e criativas, fazem muitas coisas para cuidar da vida, da alimentação, dos medicamentos produzidos por suas mãos e isto é ouro para os mais
pobres.
Há muitas perguntas sobre a situação no país, ouço conversas de que tudo continua igual ao dia do terremoto. Discordo pessoalmente pois acredito que é um olhar superficial e enganador. É evidente
que exista muita coisa para realizar, mas aos poucos, Haiti vai entrando no seu ritmo próprio e com seus recursos, o terremoto não aconteceu em Berlim, os escombros são transferidos ao poder
humano, não existem máquinas hidráulicas para os bairros pobres, que são a maioria. Também é verdade que a cidade era muito pobre. Tinha ajuda internacional, mas com pouca organização, e também
muito colonialismo. Nem todos os projetos incluem os haitianos e haitianas como protagonistas. Em verdade, o Estado é estruturalmente fraco, sem estratégia orgânica.
Ah! Durante a semana de 16 a 20, à tarde, fizemos o Atelier do Bicentenário. Novamente me impressionei com a capacidade das Irmãs para entrar em sintonia com a experiência de Emilie.
Não posso imaginar a partilha de uma reflexão mais bela e criativa a partir da ótica de Emlie. A determinação era apresentar o diálogo da experiência vivida por Emilie e a nossa. Trabalhamos
também o que precisamos aprender para VER de outra maneira.
Cada um dos tópicos permitiram vislumbrar uma maneira de viver como comunidade missionária. A Dimensão Samaritana do nosso Carisma é a que mais favoreceu para visualizar e organizar a missão
partindo da realidade desde a compaixão ao compromisso.
Bem, Irmãs, acredito que para ter uma idéia da minha percepção isto seja suficiente, certo?
Espero, sinceramente, ter-lhes fornecido um pouco da experiência que nasce neste querido e sofrido Haiti para quem sempre haverá esperança, sendo 10 milhões de habitantes e 57% menores de 24
anos. Desejamos muita vida para o Haiti. Oxalá, seja esta a nossa aposta.
Susana Ramos
2 de maio de 2012