Com os indígenas : Reflexão e questionamento

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Eu, Ir. Marluce Almeida e Verone Cristina da Silva tivemos a oportunidade de participar da defesa da tese de doutoramento do antropólogo e padre jesuíta Aloir Pacini, Identidade étnica e Território Chiquitano na fronteira (Brasil-Bolívia) pela Equipe Solidária aos Chiquitanos que ocorreu na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. A banca foi formada pelos seguintes antropólogos: Joana Fernandes da Silva (UFG), Denise Fagundes Jardim (UFRGS), Pablo Wrigth (UBA/Argentina) e o orientador Sérgio Baptista da Silva. As duas professoras se emocionaram pelo grau de comprometimento que transparece na tese, e falaram do grau de importância política para os Chiquitanos na sua luta pela demarcação de seu território tradicional e para a historiografia de Mato Grosso.

Tivemos uma Celebração Eucarística em ação de graças pela defesa do padre Aloir e do padre Rogério e um maravilhoso coquetel com a presença de vários padres, amigos e familiares.

No dia seguinte, deu início ao Seminário: (Re) Pensando Coletivos Tradicionais na América Latina. Com os Subtemas: 1- Territorialidades indígenas e fronteiras nacionais. 2- Para que serve uma teoria? O dado e o feito em uma leitura afro-brasileira da Antropologia contemporânea. 3- Territorialidades Tradicionais e Direitos Coletivos. 4-Políticas de saúde e coletivos tradicionais.

No final da tarde destes dias houve fóruns dos indígenas e negros para discussão dos seus direitos étnicos. Esses subtemas foram trabalhados em mesa com 05 a 04 palestrantes que vieram de vários lugares do Brasil e também da Bolívia, Argentina e Peru.

Na manhã do dia 9 tivemos a Mesa: Cosmologia Ameríndia e Xamanismo e na tarde houve a conferência de encerramento do professor Alex Mansutti Rodriguez do Centro de Investigaciones Antropológicas de Guayana (CIAG, Venezuela): Flautas, máscaras y poder entre los Piaroas del noroeste Amazónico.

Impressionou a grande participação de indígenas Guaranis, Kaingangs, Charruas e Quilombolas. Foram dias de muita reflexão, questionamentos e de grandes aprendizagens que nos auxiliam a compreender a cosmologia indígena, alguns conceitos como fronteira, territoriedade,a força da música, da dança,a simbologia e muitos questionamentos acerca das possíveis intervenções dos “não índios” junto as aldeias.(FUNAI,Missionári@s,CESAI.)

Ficamos hospedadas na casa dos padres Jesuítas, onde eles tem a livraria Padre Reus,fomos bem acolhidas,ganhamos livros.Ali vive o padre Roque que fala todos os dias na Rede Vida.

Agradeço ao Bom Deus e a província por essa oportunidade de crescimento que

me permite abrir horizontes na missão.

 

A Pastoral da Criança Indígena em Cáceres

 

Estiveram presentes em Cáceres nos dias 28 a 31 de agosto de 2011 na Chácara Santa Rosa, 13 etnias indígenas de diversos lugares do Brasil (Mato Grosso e Rondônia) e Bolívia, 38 representantes adultos e duas crianças. Eles são da Pastoral da Criança Indígena e na apresentação falaram das expectativas e que vieram para aprender e querem levar o que aprenderam para suas aldeias.

 

A Irmã Ada mostrou as origens da Pastoral da Criança na luta por uma terra sem males. Jesus veio à terra com uma Missão: que todas as crianças tenham vida em abundância, por isso cuidamos também das mães e das famílias. Chegaram Dom Vilar e Dom Gentil (responsável pela Pastoral da Criança no Regional MT e todos os indígenas foram cumprimentar. No final avaliaram como muito bom ss bispos e o Padre Jair apoiar a Pastoral da Criança Indígena.

 

 

Dom Vilar e Dom Gentil com a delegação de Chiquitanos do Brasil e Bolívia.

 

Dom Vilar deu as boas vindas a todos os povos indígenas e se comprometeu a buscar uma vida digna para todos os indígenas. Dom Gentil disse que a Pastoral da Criança Indígena é o mais especial dentro da sua assessoria, parabenizou a todos pelo trabalho que realizam. Falou que o Reino de Deus está em luta contra o projeto capitalista que quer a cabeça de João Batista e das crianças indígenas. Isso acontece todas as vezes que se invadem as terras indígenas e se roubam as riquezas que Deus colocou nestas terras. Jesus Cristo veio com uma Missão na terra: construir o Reino de Deus...

 

 

 Os pastores Dom Vilar, Dom Gentil unidos pelo pajé chiquitano Lourenço Ramos Rup

 

E a Igreja e a Pastoral da Criança estão a serviço do Reino de Deus aqui na terra para um dia chegarmos todos aos céus! Dom Gentil trouxe de presente uma planta para a Pastoral da Criança (folha santa) que cresce mesmo que arrancada da terra como os Chiquitanos que continuam a viver mesmo que expulsos de seu território tradicional. Reforçou a missão de cada líder da pastoral da criança de “levar a força de Deus e a vida plena para cada criança com as quais vocês trabalham. Vocês também são Igreja fazendo este trabalho lindo vida plena entre os membros de suas comunidades. Agradecendo este trabalho da Pastoral da Criança que vocês fazem”.

 

A Irmã Lurdes falou da palavra pastoral que vem da palavra de Jesus que diz “Eu sou o Bom Pastor que vai atrás da ovelha perdida”. A ovelha é como qualquer animal de estimação que recebe nome e acaba fazendo parte da família... Por isso a pastoral vai atrás dos fracos, dos doentes, dos pobres para contribuir em favor das crianças. Todos da Pastoral da Criança receberam esta Missão de serem pastores como os pajés, os bispos, os padres, os líderes das comunidades.

 

 

Dom Gentil entregou para a Irmã Ada e a Irmã Ada para a Irmã Paulina da Equipe indigenista da Diocese de Cáceres que nos acolheu na Chácara Santa Rosa!

 

O pajé Lourenço Ramos Rupe do Portal do Encantado explicou como recebeu o mandato de São João Batista para curar as crianças. Edgar Rikbaktsa: o dono da roça, para saber como fazer, consulta outras comunidades, tem que ter partilha de chicha, oração para que nada de ruim aconteça na derrubada, tudo iria que dar certo! Vai entrar em relação com as pessoas que já foram e por isso necessita do pajé para auxiliar. Também os novos precisam auxiliar com caçada, pescaria... alimentação adequada para um mutirão.

 

Eurípia falou sobre a soberania alimentar e da preocupação com a qualidade dos alimentos. O caminho das sementes crioulas tem sua origem nas aldeias e passa de mão em mão... Pode ser trocada para que todos tenham sementes e plantem para sustentar o nosso país. Em seguida Gilberto do CIMI falou dos Agrotóxicos... Que a soja foi mudada geneticamente para suportar mais veneno que as outras plantas e os passarinhos. Não há interesse de que os indígenas participem do processo... Mas qualquer pessoa pode fazer uma denúncia ao Ministério Público Federal e fazer a sua reclamação porque são os fiscais da lei!

 

Constataram: “Nós estamos nos sentindo fracos porque a gente já pegou o costume e os alimentos dos brancos... Não comemos mais como nossos pais e nossos avós... Já não bebemos mais a chicha com nossos antepassados!” (Maria Neusa Rodrigues, Bakairi de Santa Ana).

 

“Nós temos grande preocupação com nossos filhos e gestantes, que não tem atendimento adequado pelo responsável da saúde, Funasa e Funai. Onde nossos filhos estão morrendo de desnutrição e por falta de atenção a saúde. Por esses motivos estamos nos organizando para trabalhar com nosso povos, para não aumentar os altos números de mortalidade dentro das nossas comunidades Indígenas” (Inata Tapi Kaiabi, da aldeia Sobradinho).

 

Os índios fizeram um documento abaixo-assinado por todos reclamando do historiador Acir Fonseca Montecchi que fez “laudo antropológico” dizendo que os Chiquitanos do Portal do Encantado são mestiços, não são índios. Este documento foi entregue primeiro no Ministério Público Federal, no Departamento de História da UNEMAT e também na Reitoria da UNEMAT.

 

CARTA DE CÁCERES

 

           Nós, lideranças indígenas, das etnias Nambikwara, Aikanã, Umutina, Bakairi, Rikbaktsa, Kayabi, Surui, Xavante, Chiquitano, Terena, Apiaká, Irantxe, Munduruku , reunidos no VI Encontro da Pastoral da Criança, realizado na cidade de Cáceres-MT no período de 28 a 31/08/2011, tomamos conhecimento que o Sr. Acir Fonseca Montecchi nomeado para atuar como Perito Antropólogo no processo nº 2005.36.01.001071-8 disse que os índios Chiquitanos das Aldeias Fazendinha e Acorizal são “mestiços”, isso não é verdade. Nós os reconhecemos como nossos parentes índios, com direito a Terra Indígena Portal do Encantado. Entendemos que a afirmação do Sr. Acir é preconceituosa e discriminatória, utilizada para tirar os direitos do povo indígena Chiquitano.

 

Cáceres-MT, 30 de agosto de 2011.